Fotografia de Hélio Cristovão em http://www.heliocristovao.net/blog |
Meu corpo foi talhado em granito
Meus pés plantados em ribeiros
Que me banham o corpo inteiro.
Nos olhos tenho espaço infinito
Que rasga a linha do horizonte
Que se perde no mar, nos montes.
No meu véu branco de esponsais
Brotam zimbro, mimosas, tojais.
No verde selvagem dos pinheirais
Meu manto de rainha foi tecido
Com urzes e rosmaninho entretecido.
Meu vestido verde bordado
Com rubra barra de papoilas
Espigas doiradas
De trigo e cevada
Desce pelas encostas escarpadas.
No ventre fecundo
Guardo mananciais
De lava ardente e minerais
Que mostram seu esplendor
Nos picos das Penhas Douradas
Quando o sol enamorado
Em manhãs de ouro matizadas
Crepúsculos avermelhados
Me confessa o seu amor.
Prendem-se minhas mãos nas fráguas
Delas jorram cristalinas águas.
Águas de lava arrefecida
Fontes de saúde e vida
Irrompendo em borbotões
Tecendo rendas delicadas
P'las quebradas dos Covões.
Derretem neves do Inverno
E loucas vão mergulhar
No Poço que é do Inferno.
A água das neves, gelada
É de novo transformada
Pela lava incandescente
Rasga a terra com fragor
Entre nuvens de vapor
Nas termas e nas nascentes.
Sou feita de neve e de granito
Nos olhos tenho espaço infinito
Do verde selvagem dos pinheirais
No ventre fecundo mananciais
De lava ardente e geladas águas
Que jorram cantando pelas fráguas.
Maria Ivone Vairinho
(Livro do amor e da saudade)